Ópio da nação, narcotráfico da mídia
Ed Mota deu uma declaração esta semana que eu tomaria como minha. Ele disse que "Se pudesse escolher, eu moraria em Paris, Nova York ou Londres. Não tenho nenhuma identificação com o Brasil. Não gosto de futebol, não como feijoada e não tomo cerveja."
Eu só gosto da Copa. O ópio nacional quadrienal. A droga da nação, o narcotráfico da mídia.
Terça-feira, 13 de junho. Estréia do Brasil na Copa contra a Croácia. Meses antes todo mundo já tinha se articulado para assistir jogos juntos, e eu não. Sempre tem aquele convite. Mas eu não marquei nada. Até marquei com uns amigos mas de última hora desisti. Prometi a minha irmã que iria assistir o jogo com ela. Eu, ela e o vizinho. Isso mesmo, o vizinho. Diante da situação, temos um grande impedimento: eu não vou poder gritar, chamar palavrão, e dar chilique quando o Brasil perder um grande lance. Cartão amarelo pra minha irmã que inventou de marcar com o vizinho, justamente na casa dele. Mas tudo bem, vamos entrar em jogo.
Fui escalado pra comprar uns quitutes para levar pra casa do vizinho. O jogo era as 16 h, fui a padaria por volta das 15h. Era bem possível dar um grito na rua e escutar seu eco. Nem um pé de pessoa. E as que ainda transitavam pela avenida, estavam vestidos de verde e amarelo, e correndo para não perder nem um minuto qualquer da partida. Mas um clima de confraternização pairava na cidade, no país.
Na padaria, uma fila enorme para comprar coxinhas e empadinhas de frango. Esperei 15 ansiosos minutos enquanto as pessoas reclamavam porque poderiam perder o jogo. Mesmo assim, todos se confraternizavam perguntando os palpites do jogo, o possível craque, a gordura de Ronaldinho e os comentários idiotas de Galvão Bobueno.
Enfim cheguei na casa do vizinho. Vizinho simpático, gente boa e apaixonado por futebol. Depois do primeiro gol do Brasil, já estávamos amigos íntimos, soltando comentários pra lá, palavrões pra cá, escalações, mudanças, táticas, mãe de Parreira e tudo mais. Não foi ruim assistir o jogo na casa do vizinho. Até entendi um pouco da seleção de 70. :)
E até que a Copa é um evento legal. A violência diminui, as pessoas se confraternizam, os amigos se veem, os ex-amigos reveem, faz-se novos amigos e os olhos do mundo se voltam pro Brasil. Sem dúvida é o maior espetáculo do Brasil. Só não acontece aqui.
Mas que é... isso é!